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CPV020 – Tonico & Tinoco – Chico Mineiro

Na música caipira assunta só como são as coisas: não existe Alvarenga sem Ranchino, Tião Carreiro sem Pardinho, Milionário sem José Rico e muito menos Tinoco sem Tonico, mas, na maioria dos casos, apenas um lado da moeda se encarrega das composições das letras,  buscando parceria em outra freguesia. Tinoco conta que em Julho de 1946, quando chegaram para gravar um Programa na Rádio Difusora de São Paulo, o porteiro da emissora contou pra eles uma história de dois caboclos, um dono de tropa e um peão que, unidos pelo destino, se tornam além de patrão e empregado, bons amigos. Vai assuntando:


Tonico & Tinoco


Tonico e Tinoco é o nome artístico dos irmãos João Salvador Perez e José Salvador Perez. Nascidos em São Manuel e Botucatu respectivamente, cidades que ficam a cerca de 250 Km da capital paulista, entre Sorocaba e Bauru. Em 1931 viviam na fazenda Vargem Grande com os pais, Salvador Pérez – um espanhol de León, chegado ao Brasil criança, em 1892, e Maria do Carmo, uma brasileira.


O gosto pela música veio dos avós maternos Olegário e Isabel, que alegravam a colônia com suas canções, ao som de um antigo acordeão. A primeira canção que os irmãos aprenderam foi “Tristeza do Jeca” em 1925.


No fim do ano agrícola de 1937, a família Pérez decidiu tentar a vida na cidade de Sorocaba SP. As irmãs Antônia, Rosalina e Aparecida foram trabalhar na fábrica de tecidos Santa Maria. Tonico foi trabalhar como servente na Pedreira Santa Helena, fábrica do cimento Votorantim. Tinoco trabalhava como engraxate na Estação Sorocabana e Chiquinho engajou-se na construção da Rodovia Raposo Tavares, que liga o sul de São Paulo a Mato Grosso do Sul.


Os tempos duros da cidade grande tinham lá sua compensação, principalmente nos domingos, quando a família ia ao circo, na rua Lins de Vasconcelos no então pacato bairro do Cambuci. Num desses espetáculos, os irmãos conheceram pessoalmente Raul Torres e Florêncio, a dupla de violeiros mais famosa de São Paulo e que depois, com Rielli na sanfona, formaram na Rádio Record o famoso trio “Os Três Batutas do Sertão”.


Ocapitão Furtado, que estava sem violeiro em seu programa Arraial da Curva Torta, na Rádio Difusora, promoveu então o concurso para preencher a vaga. Os Irmãos Perez, cantaram o cateretê “Tudo tem no sertão” e, classificados para a final, interpretaram, de Raul Torres e Cornélio Pires, “Adeus Campina da Serra”. Quando terminaram, o auditório aplaudiu de pé, em meio a lágrimas. Todos pediam bis àquela dupla que cantava diferente, com afinação, fino e alto.

Todos os outros violeiros foram abraçá-los. O cronômetro marcava 190 segundos de aplausos, contra apenas 90 segundos da dupla segundo colocada. No dia seguinte o Trio da Roça estava contratado pela Rádio Difusora, que naquele período havia sido comprada pela Tupi FM, parte da ofensiva do jornalista Assis Chateaubriand para formar uma poderosa rede de veículos de comunicação – os Diários e Emissoras Associados.


A dupla estreou em disco, na Continental, em 1944, com o cateretê “Em vez de me agradecê” (Capitão Furtado, Jaime Martins e Aimoré), que foi lançada em 1945. Na gravação de “Invés de me agardecê” ocorreu um fato inusitado, pois eles a gravaram e em seguida, quando foram gravar o lado B do disco soltaram a voz tão alto, igual que nem cantavam lá na roça e estouraram o microfone. Como o processo de gravação era algo muito caro, o disco saiu apenas com um lado, mas como punição a dupla precisou ficar seis meses fazendo aula de canto para educar a voz e voltar a gravar.


Depois dessa gravação, que serviu de teste, gravaram seu primeiro disco completo: a moda de viola Sertão do Laranjinha, motivo popular adaptado pela dupla e Capitão Furtado, e “Percorrendo o meu Brasil” (com João Merlini), que foi sucesso imediato.

No ano seguinte (1946) o sucesso definitivamente chegou com o lançamento da canção que iria mudar o rumo de suas carreiras: Chico Mineiro!

 

Chico Mineiro


Tonico ouvia, desde criança, seu pai contar a “lenda” do Chico Mineiro. Alguns dizem que o apelido de Chico mudava de acordo com o Estado onde a lenda era contada. Podia ser Chico Mineiro, Goiano, Paulista…


No início da carreira, fizeram uma apresentação na Rádio Tupi e, na saída, o porteiro, que havia ouvido o programa e era, provavelmente, oriundo de algum sertão do Brasil, perguntou a Tonico se ele conhecia a história do Chico Mineiro. Os causos contados pelo pai se reacenderam na memória e, misturados ao som da viola, levaram-no a compor, sozinho, a canção.


Há causos a respeito da música Chico mineiro, mais a verdade é uma só, existem em muitas letras arranjos e historias apenas para dar mais brilho, ou melhor, ilustração a canção. No caso de letra de “Chico Mineiro” muitas lendas foram ditas para que se chegasse à verdadeira origem de Chico mineiro.


E até hoje todos perguntam: Fato verídico ou só mais um causo? Fica aí pra vocês o mistério no ar. Mas se Tonico compôs Chico Mineiro sozinho, quem é Francisco Ribeiro, que recebe em parceria os créditos da canção?


Se lembra do porteiro da TV Tupi? Que fez com que o compositor se lembrasse do causo do Chico Mineiro, que seu pai lhe contava quando era pequeno. Então. Esqueci de dizer que o nome dele era Francisco Ribeiro.

Como prova de amizade e gratidão, Tonico deu-lhe a parceria. Afinal, parceiro não precisa nem ser parceiro, mas tem que ser amigo.

Outro fato curioso é que, quando foram gravá-la, a gravadora informou aos sertanejos que este seria seu último disco, pois os ouvintes reclamavam que não entendiam a sua pronúncia caipira do interior de São Paulo.

 

60 anos de carreira


No ano de 1994, na Polygram, com a produção de José Homero e Chitãozinho, gravam seu último trabalho, onde destaca-se “Coração do Brasil”, de Joel Marques e Maracaí, com participação especial de Chitãozinho & Xororó e Sandy & Júnior.


O último show da Dupla Tonico & Tinoco foi na cidade mato-grossense de Juína, no dia 7 de agosto de 1994.


Nesse mesmo ano, aos 77 anos, Tonico morre após sofrer uma queda na escada do prédio onde morava. Encerra-se assim uma parceria que durou cerca de 60 anos.


E Em 2012, aos 91 anos de idade, Tinoco fez sua ultima viagem. Partiu pra um sertão bem mais distante que o de Goiás! Provavelmente foi se encontrar com Tonico, e toda a trupe caipira, para uma turnê celestial. Em mais de 60 anos de carreira, a dupla Tonico & Tinoco lançou 83 discos com cerca de 1.000 gravações e conquistou fãs por todo o Brasil. Os irmãos foram alguns dos principais responsáveis pela criação da música sertaneja. Os álbuns lançados pela dupla venderam, juntos, 150 milhões de cópias, um recorde para a música brasileira. Foram mais de 40.000 apresentações em toda a carreira. E décadas de sucessos nas rádios e na televisão.


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